Era o que se lia numa das muitas t-shirts que enchiam o Madison Square Garden na noite do passado dia 7 de Novembro de 2009. E para muita gente, eu incluído, era perfeito que assim pudesse ser.
2009 está a ser o meu ano Springsteen. Surgiu disco novo e eu praticamente completei a discografia do senhor. Acompanho-o desde que ouvi uma fabulosa interpretação da Trapped, original de Jimmy Cliff, numa cassete do projecto “USA for Africa”, em meados dos anos 80. Nessa versão Bruce Springsteen deu à canção um tom arrastado e arrepiante mas em que nada adivinhava a explosão que surgia no refrão. Era e deve continuar a ser a melhor coisa que está nessa cassete. A partir daí, começou a minha devoção ao Boss, tentando sempre acompanhar tudo o que fazia, coisa que nem sempre foi fácil, principalmente no princípio dos anos 90, quando lançou alguns discos mais fracos.
No entanto, faltava vê-lo ao vivo, onde as suas actuações surgiam em relatos alheios como míticas e lendárias. Oportunidade essa que ainda não tinha surgido... até agora! E que melhor espaço que o Madison Square Garden em plena Nova Iorque? E foi assim que no dia 7 de Novembro me dirigi pelas seis da tarde para o já referido edifício, entre a sétima avenida e a 33ª rua, para finalmente ver um dos meus heróis ao vivo.
As portas abriram às seis e meia da tarde e apesar de no bilhete vir anunciado o início do espectáculo para as sete e trinta, só às 20h35m, é que as luzes se apagariam para dar início ao concerto. Até lá, houve tempo mais que suficiente para fazer um estudo sociológico detalhado sobre os comportamentos dentro da sala, coisa que fui fazendo levemente até porque havia cerveja de garrafa para me entreter até ao inicio do concerto. Cerveja e muito mais, sumos, águas, pipocas, algodão doce, amendoins, um autêntico mercado ambulante. A sala, à medida que se aproximava da hora, ia enchendo na sua grande maioria com quarentões e cinquentões. Será importante mencionar também a grande quantidade de espanhóis presentes, facilmente identificáveis pela bandeira do seu país que ostentavam numerosamente.
Chegada a hora, as luzes apagam-se e para minha surpresa, TODA A GENTE, sem excepção, se levanta para saudar o patrão. E ele não se faz rogado, começa logo a abrir com uma enorme Thundercrack, apresentada como um outtake. De seguida, toca a Seeds e logo depois a primeira canção facilmente reconhecida pelo público: Prove it all Night. Após esta música acontece o primeiro momento alto da noite com a Hungry Heart a ser cantada pelo público como já é norma desde que a canção foi editada, mas com a diferença que é entre o público que também se encontra Bruce Springsteen em perfeito crowd surfing, conseguindo assim atravessar um terço da sala até ao palco. Não é para todos!
Pouco depois, vieram as primeiras palavras ao público e com elas a grande surpresa da noite: iam tocar pela primeira vez o disco “The wild, the innocent and the e-street shuffle” (de 1973) na íntegra ao vivo. E é com o afinar da voz e o levantar da batuta, literalmente, que o Boss dá inicio a uma excelente revisitação a um dos seus melhores discos, contanto para tal com uma secção de cordas, uma de sopros e praticamente todos os músicos envolvidos na gravação do disco. E assim se passou uma hora em que percorreu todos as canções do referido disco, com destaque para Kitty’s Back, Rosalita, (durante as quais vi cinquentões a dançar como se estivessem a combater moinhos feitos verdadeiros Dom Quixotes), e para uma sublime New York Serenade capaz de levar o autor destas letras às lágrimas.
E depois de uma hora a tocar um dos seus melhores discos, quando já ninguém pensava que havia alguma coisa capaz de superar o que tinha acabado de acontecer, temos ainda umas extraordinárias Waiting on a Sunny Day, com a participação de uma criança da audiência, uma Raise your Hands capaz de colocar o Madison Square Garden inteiro com as mãos no ar, uma Rising terrivelmente emocionante e uma Born to Run apocalíptica, terminando assim o concerto.
No entanto nem o Boss nem a banda chegam a sair do palco, fazem apenas uma pausa para agradecer à boca do mesmo e o encore começa logo de seguida. Wrecking Ball é o novo tema escrito a propósito da demolição do estádio dos Giants e é o Boss de volta às grandes canções. E é o tema perfeito para iniciar a festa que se anuncia no encore. Segue-se uma Bobby Jean cantada pelo mundo inteiro e uma American Land com um Springsteen a vestir a pele de um Shane Macgowan mas ainda mais Shane que o próprio Shane e que faz o público sair das bancadas e procurar espaço para dançar. Para continuar a dança, não poderia faltar Dancing in The Dark, com o patrão a dançar com uma rapariga da assistência, tal como sempre se viu nos vídeos e que não ficava bem se aqui faltasse. Por último, o grande Elvis Costello sobe ao palco para cantar com Springsteen, uma versão estendida, e muito bem estendida, do clássico do soul, Higher and Higher de Jackie Wilson. Final perfeito!
Não foi o alinhamento desejado, mas o alinhamento com que eu sonhava era impossível de concretizar. Ainda assim, foi um concerto no seu todo perfeito, uma verdadeira celebração feita por uma das maiores e mais coerentes estrelas rock de sempre, que com 60 anos vive cada minuto como se fosse o último. E neste caso foram 180 minutos. Mais uma vez, não é para todos! 10/10!